quinta-feira, 14 de maio de 2015

Análise profunda de Bayern x Barcelona

Um dos finalistas da Liga dos Campeões de 2014/15 foi definido através do embate entre Bayern e Barcelona. Cada equipe à sua maneira demonstrou de que tem como jogar futebol através de conceitos semelhantes diante de diferentes prioridades. Para a classificação à final da equipe catalã, os comandados de Luis Enrique começaram o jogo no seu habitual 4-3-3 enquanto que os de Guardiola no 4-4-2.

Barcelona no 4-3-3 e Bayern de Munique no 4-4-2

Primeiramente, antes de demonstrar as movimentações individuais em relação ao todo de cada time, é necessário salientar de que tanto o Barcelona quanto o Bayern atuaram com conceitos semelhantes: busca de superioridade numérica tanto ofensivamente quanto defensivamente, compactação com e sem a bola, intensidade e volume de jogo atacando e defendendo. Uma vez que ambos os técnicos advêm de filosofia semelhante quanto às suas formações, os conceitos de jogo deveriam ser mesmo os mesmos. O que diferenciou em cada equipe foi as suas prioridades. Ao longo da análise, as prioridades serão mais detalhadas.

Diante do placar adverso sofrido na primeira partida, o Bayern de Munique teve a necessidade de procurar as primeiras ações ofensivas do jogo. E assim o fez. Já na sua saída de jogo (início da transição ofensiva), a equipe bávara espetava ambos os laterais e recuava Thiago e Xabi Alonso para facilitar a continuação da saída curta após os seus zagueiros. Essa movimentação sem bola de Rafinha e Benat tinha um intuito tático.


Para iniciar a transição defesa-ataque, Rafinha e Bernat avançam simultaneamente sem bola. Devido a isso ou Neymar e Messi os acompanhavam –gerando a situação demonstrada adiante- ou eles passavam a ser gerar um 2 x 1 diante dos laterais catalães –assim como mostra o flagrante acima. Com superioridade pelos lados do campo, o Bayern continuava a manter a posse da bola.


Se caso Messi e Neymar acompanhassem as subidas de Rafinha e Bernat, havia a geração dos espaços dos retângulos vermelhos. Com estes espaços, Lahm, Thiago, Xabi Alonso e Schweinsteiger passavam a ter possibilidade de recuo e de usufruir dos espaços gerados.

Já em campo ofensivo, os jogadores da equipe alemã também apresentavam movimentações táticas sem deixar de lado os seus conceitos ofensivos: toques curtos, aproximação, geração de superioridade numérica no setor da bola e a possibilidade de usufruir do espaço vazio gerado. Vale notar de que tanto a transição ofensiva quanto o sistema ofensiva eram coordenados, táticos e compactados. Muitos jogadores do Bayern se posicionavam ou se movimentavam para o setor da bola e, assim, aumentando as chances de se manter com a bola. Isso é tática ofensiva.


Com a bola com Thiago, Lahm entrava na diagonal e abria espaço para o avanço de Rafinha, e o mesmo acontecia do outro lado entre Xabi Alonso- Schweinsteiger- Bernat. A sincronia de movimentos fazia com que o Bayern avançasse terreno mantendo a posse de bola através de passes curtos.

Para se defender das movimentações alemãs, o Barcelona marcava em bloco. Pouco se viu um solitário jogador realizando a pressão no adversário com a bola. Desse modo, seja em campo ofensivo quanto no defensivo, o time catalão esteve próximo e o 4-1-4-1 era perceptível em diversos momentos.

Inicialmente, o Barcelona começava a sua marcação em bloco médio. Entretanto, ao mesmo tempo em que o Bayern recuava a bola, a equipe catalã avançava em bloco tanto que imagens como a de cima foi notória em diversos momentos do jogo. Avanço em bloco para a subida do bloco de marcação. Organização defensiva.

Já em campo defensivo, o 4-1-4-1 se mantinha próximo –assim como mostra o flagrante anterior. Nele, também é possível de notar a equipe catalã iniciando a sua marcação em bloco médio e compactada em curto espaço. Nesse posicionamento defensivo, o Barcelona procurava, pelo menos, duas intenções: atenuar a participação da referência do ataque da ação defensiva da equipe e atrair o Bayern para longe da área de Neuer. O contra-ataque estava armado.

Para golpear o time bávaro, o Barcelona teve que desvencilhar da marcação pressão desde a saída de bola do Bayern e transitou para o campo ofensivo através de duas maneiras evidentes: rapidamente e através da movimentação na diagonal de Messi. Em todas essas fases de jogo, a organização, a movimentação, a intensidade e o volume de jogo estavam presentes. Era tática ofensiva catalã.


O Bayern marcou intensamente em bloco alto em toda partida. No momento do flagrante acima, nota-se, além do bloco alto bávaro, a superioridade numérica no setor da bola pelo lado do time alemão. No losango azul, percebe-se quatro jogadores do Bayern contra somente dois do Barcelona. Esse avanço do bloco em organização com intensidade fez com que os bávaros realizassem aquele “abafa” inicial. Todavia, do outro lado tinha o trio MSN.

Em campo ofensivo, o trio MSN realizou diversas vezes a mesma movimentação organizada desde os primeiros jogos que Messi, Suarez e Neymar jogaram juntos: Messi entra na diagonal, Suarez se movimenta para as costas do lateral-esquerdo adversário e, quando o camisa 10 catalão recebe a bola, Neymar e Suarez entram no “facão” simultaneamente. Além desse posicionamento ofensivo do trio MSN, no flagrante acima também é possível de notar a superioridade numérica que o Barcelona gerava em campo ofensivo, e de como Bernat ficava sem função e somente observava a movimentação de Messi. Com essa observação no camisa 10 do Barça, Bernat costumeiramente cedia as suas costas para Suarez usufruir –assim como mostra a imagem.

No terço ofensivo, Messi recebe a bola e Neymar e Suarez entram no “facão”: jogada já “manjada”, mas a imprevisibilidade do trio MSN –principalmente de Messi, pois é ele geralmente o dono do passe profundo, assim como mostra o flagrante anterior- torna essa movimentação difícil de ser parada. Tanto no contra-ataque quanto na jogada trabalhada, o Barcelona era tático.

Para o segundo tempo e com o placar adverso em 2 x 1, Guardiola modificou o posicionamento da sua equipe. Do 4-4-2, o Bayern passou a jogar no 4-3-3. No entanto, é importante ressaltar: mudou-se o posicionamento, mas os conceitos se mantiveram. A busca de superioridade numérica tanto ofensivamente quanto defensivamente, compactação com e sem a bola, intensidade e volume de jogo atacando e defendendo foram conservadas.


Na primeira etapa, Bayern jogou no 4-4-2 onde se defendia em campo defensivo no 4-4-1-1 com o recuo de Muller, assim como mostra o flagrante acima.


Já no segundo tempo, o time bávaro alterou para o 4-3-3, assim como mostra a imagem anterior.

Devido à mudança do posicionamento, Xabi Alonso passou a ter mais facilidade de recuar para realizar a saída de três da sua equipe e, assim, facilitando ainda mais os avanços simultâneos dos seus laterais. Desse modo, quando o Bayern saia pelo lado esquerdo do campo e Neymar não balançava defensivamente para o lado da bola, gerava-se a facilmente a possibilidade de virada de jogo para Lahm ou para Rafinha –assim como mostra o flagrante acima. Tanto que foi Thiago, o jogador que mais realizou viradas de jogo corretas na partida: influência de Neymar e da movimentação dos bávaros no início da transição ofensiva da sua equipe.


Assim como o conceito de jogo era buscar a superioridade numérica no setor da bola com a posse da bola, sem ela, ele também era buscado. Tanto que mesmo no 4-3-3, o Bayern também gerava superioridade numérica. O esquema tático mudava, mas o conceito de jogo não. Isso é tática.

Pelo lado catalão em relação ao segundo tempo, o time diminuiu a sua intensidade, tanto na fase defensiva quanto na ofensiva. Isso contribuiu para que o Bayern tivesse realizado mais dois gols. Todavia, houve mudanças interessantes das quais Luis Enrique realizou no intervalo.

Para a segunda etapa, o técnico do Barcelona colocou Pedro no lugar de Suarez e Iniesta com a possibilidade de avanço constante em cima de Xabi Alonso, quando esse recuava para a saída de três do Bayern. Com Pedro, o trio ofensivo catalão se posicionou com Neymar a esquerda, Messi no centro e Pedro na direita; e com Iniesta avançando defensivamente, o posicionamento defensivo alterava para o 4-4-1-1/ 4-4-2.

Com Messi no centro do ataque, ele tinha a função de “falso 9”: ele recuava para colaborar na armação da equipe, enquanto que Neymar e Pedro se posicionavam para realizar o “facão”.


Já no início da fase defensiva, Iniesta se desalinhava de Rakitiv e avançava para se alinhar a Messi. Com essa movimentação do camisa 8 catalão, Busquets se alinhava a Rakitic –formando uma linha de 4 com Pedro, o croata e Neymar- e o Barcelona, momentaneamente, se posicionava defensivamente no 4-4-2 ou até mesmo no 4-4-1-1. Nessa situação de jogo, vale notar a evolução tática defensiva de Neymar: no flagrante acima, percebe-se o jogador brasileiro balançando defensivamente, assim, permitindo a possibilidade de superioridade numérica no setor da bola da sua equipe e, também, de diminuição no tempo para poder marcar os jogadores bávaros próximos da faixa central do campo –no caso, seria Lahm.

A falta de intensidade do Barcelona somada à pressão do Bayern pode ter, entre outras, uma explicação: a previsibilidade do sistema ofensivo catalão na segunda etapa do jogo. Com Messi atuando mais na faixa central do campo, a marcação provável nele acontecia: um dos meio-campistas bávaros se aproximava dele e a jogada do Barça tinha as chances diminuídas de acontecer. Em comparação ao que o sistema ofensivo desse time espanhol fazia no primeiro tempo, saía da esquerda para o centro e, assim, era difícil de marcar o argentino. Já que Bernat não o acompanhava –pois guardava o seu setor- e os meio-campistas do Bayern ficavam atentos com os jogadores do meio-de-campo do Barcelona.

Com Messi saindo da referência do ataque para armar o jogo na intermediária ofensiva, ele acabava caindo na zona de marcação de Xabi Alonso. Além de ser facilmente marcado, o argentino não abria espaço para as entradas nas diagonais de Neymar e Pedro, os quais quando se movimentavam, iam direto à zona dos zagueiros do Bayenr. Sem intensidade e com as movimentações ofensivas facilmente “marcáveis”, o Barcelona sofreu mais dois gols e não conseguia reter a bola em campo ofensivo.

Para atenuar essa previsibilidade ofensiva catalã, Luis Enrique recolocou Messi aberto pela direita e Pedro foi para o comando do ataque do time. Além disso, para enrolar com o tempo, o técnico do Barcelona colocou Mathieu e Xavi nos lugares de Iniesta e Rakitic. Apesar de parecer que o esquema tático tivesse modificado, ele se manteve no mesmo 4-3-3 inicial do jogo. Já Guardiola colocou Gotze, Javi Martinez e Rode e, também, manteve no mesmo posicionamento tático da segunda etapa da partida.

Fim de jogo: Barcelona no 4-3-3 e Bayern de Munique no 4-1-4-1.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)