quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Cabofriense 0 x 2 Vasco - Um time que surpreendeu pelos conceitos

Após duas derrotas seguidas para Flamengo e Sao Paulo no torneio de Manaus, Vasco viria para fazer sua estreia no Campeonato Carioca contra uma Cabofriense que já havia dado trabalho no ano anterior. Apesar dos resultados negativos, a equipe, ainda em formação após as diversas modificações ocorridas, mostrou ter um padrão tático e "vendeu caro" os seus jogos. Placares magros de 1 a 0 e 2 a 1, com diversos momentos de superioridade nos jogos foram a tônica dos jogos no norte do país.

Para o jogo da estreia, Doriva fez duas mudanças na equipe sem alterar a sua estrutura: 4-2-3-1, dessa vez com Madson na lateral direita e Serginho no meio ao lado de Lucas, nos lugares do improvisado Jean Patrick e de Sandro Silva, que não vinha bem. Mudanças prudentes que adicionaram e muito a equipe.

Estruturalmente, ambas jogavam de modo semelhante, mas com posturas COMPLETAMENTE diferentes.

Após uma rápida tentativa inicial de finalização da Cabofriense, sem perigo, Vasco passou a ter completo domínio territorial do jogo. Sufocava o adversário no campo deles, avançava suas linhas sem medo (ponto para Doriva que conseguiu acertar isso dos jogos de Manaus) e não deixava o time deles sair para tentar algo. A equipe opositora ficou exatos 10 minutos sem conseguir sair do próprio campo. Quando os vascaínos perdiam a bola, reagiam rápido, mudavam a mentalidade coletiva para recuperar a bola e logo tinham dois-três homens para tentar roubá-la. O jeito "caçador" da equipe foi uma coisa que se destacou e muito no jogo de domingo. Partidaça da dupla Serginho e Lucas!

Observe nos dois frames acima o posicionamento dos últimos defensores vascaínos na linha de meio de campo. Isso facilita que a pelota seja roubada mais a frente.

Ja nesse quarteto de frames, momentos de perda da posse que o Vasco rapidamente conseguia juntar muitos homens para reduzir o campo de ação do adversário tanto em espaço, como em tempo. Essa ação coletiva é denominada "pressing".

Pressing esse que tinha suas características bem definidas. Realizava-se na intermediária avançada, e de preferencia numa zona lateral, onde poderiam sufocar o adversário com facilidade devido a delimitacao do campo. Os jogadores se posicionavam inicialmente de modo a preencher o território central do campo para poder forçar que a saída adversária fosse pelo lado e quando o mesmo caía nessa armadilha em sair por ali, apertavam a marcação, negando todas as possíveis opções de passe rivais e pressionando o portador da bola. Os exemplos já dados acima e o abaixo pode mostrar isso bem!

Bernardo pressiona o portador que se encontra com a bola na lateral e os jogadores mais próximos anulam rapidamente as opções de passe mais prováveis. A linha lateral também auxilia e muito nesse momento, pois sufoca naturalmente o jogador rival.

Observe também o mapa de calor dos volantes e zagueiros vascaínos. Curiosamente, uma alta intensidade nos lados, onde se localizavam as armadilhas cruzmaltinas. Muitos desarmes e bolas recuperadas por ali por Rodrigo e Lucas na esquerda e Luan e Serginho pela direita. Bom recurso!

A equipe dominava o território, mas mostrava pouco poder de criação/finalização. O trio de meias (Bernardo, Montoya e Marcinho) centralizava para poder interagir, seja trocando passes, seja trocando posições, se movendo, mas pecavam na hora de decidir. A falta de entrosamento aliada a qualidade nas decisões um tanto duvidosas por parte dos dois primeiros embolou a meiuca e fez o time criar pouco. O último passe não entrava ou então os jogadores davam um drible a mais matando boas oportunidades de jogo. 


Acima, Montoya está com a bola e Madson faz a ultrapassagem. Teria muito espaço para poder cruzar em perigo ao gol adversário. Preferiu passar por dentro para Rafael, totalmente marcado. DECISÃO EQUIVOCADA!

Ja nessa sequencia de frames, Bernardo com bom espaço para decidir tem um Christiano subindo sem nenhuma oposição a frente. Bernardo preferiu o passe nas costas da defesa para Rafael, que tinha bem menos angulo (já que é destro) e ainda por cima estava impedido. DECISÃO EQUIVOCADA!

Esses dois frames acima também revelam uma arma que o Vasco pelo visto terá para esse ano: os laterais. Madson e Christiano apoiaram muito (mais um ponto para Doriva, laterais estavam muito presos em Manaus), dando profundidade pelos lados, fazendo ultrapassagens tanto por dentro como por fora. Além de ajudarem e muito a dar amplitude necessária a equipe, participavam ativamente dos contra-ataques. Com a ajuda dos meias abertos fixando os laterais por dentro (observe primeiro frame abaixo), eles ganhavam espaço para poder avançar e subir com tranquilidade.

Muito espaco para Christiano subir com tranquilidade

Jogada que poderia se repetir com mais frequência e que foi cantada aqui no blog antes: Montoya sai de dentro para fora arrastando o volante e abre espaço para apoio interior do lateral, no caso Christiano, que tem boa finalização. Chute dele trouxe perigo nesse lance

O primeiro tempo terminou com um Vasco sem sofrer dano algum, porem sem ameaçar tanto ao gol do rival. Os mapas de calor das equipes mostravam uma abissal ocupação do campo ofensivo por parte da equipe cruzmaltina (veja abaixo), que se superiorizava no numero de finalizações (10 a 3) e na posse de bola (57%). Para o segundo tempo, a equipe ja voltou com uma postura diferente.

Cabofriense afundada em seu campo defensivo com o ponto mais quente dentro da própria área


Vendo que precisava ser mais objetiva para chegar ao gol, a equipe cruzmaltina passou a ser mais rápida ainda. Buscou marcar ainda mais forte nos lados e ter mais chegada. Lucas passou a subir mais para apoiar os ataques e os meias abertos passaram a se movimentar mais. Foi assim que saiu o gol de Bernardo aos 7 minutos. Iniciação do ataque rival direcionado para a lateral, armadilha montada, roubada de bola de Montoya, busca da diagonal e passe mortal para Bernardo finalizar no outro lado. Um 1 a 0 ate o momento muito merecido. Siga os frames:

Rival direcionado para o lado, bola roubada, busca pelo centro para achar o lado débil da defesa. GOL!

Gol feito, Cabofriense reagiu com mudanças. Colocou o time mais para frente, tirando o volante Everton para colocar Gilcimar, atacante de área e tirou Jones para colocar Caca, meia veloz que entrou bem. Time se reorganizou num 4-3-1-2 bem diferente do inicial. Inicialmente a mudança surtiu pouco efeito, com o Vasco ainda sufocando muito o rival em seu próprio campo e ainda ameaçando em um contragolpe que quase saiu em gol com Rafael Silva.

So que na parada técnica, duas mudanças facilitaram a vida do time pequeno da Região dos Lagos: a entrada de Teti no lugar do lateral Amaral e a entrada de Yago no lugar de Montoya. Com isso, o meia Caca que tinha acabado de entrar foi jogar nas costas de Madson na direita e Arthur foi improvisado na lateral. Soma-se isso a entrada de um jogador com notáveis dificuldades de recompor pelo lado direito (Yago), criou-se uma mina de ouro para se explorar. A Cabofriense passou a explorar essa debilidade e trouxe perigo!

Repetir 4 vezes a demora para auxiliar na recomposição não pode. Isso trouxe muitos problemas e diversos 2 x 1 no nosso lado direito defensivo. Tem que trabalhar o garoto!

Mesmo que a ideia do treinador fosse a de abusar da velocidade do garoto da base vascaína, ela deveria ter sido feita com mais cuidado. Precisou-se fazer duas novas alterações para compensar a situação: colocou John Cley, mais responsável defensivamente, no lugar de um Bernardo cansado, e prendeu Jean Patrick na direita no lugar do também cansado Madson. Os contragolpes vascaínos continuaram ameaçando, como aconteceram nos lances em que John Cley e o próprio Yago perderam gols, mas isso expôs a equipe num momento onde se exigia cautela.

Demora de Yago trazia inferioridade numérica na direita

O segundo gol saiu tambem num contra-ataque, puxado por Serginho, chegando em John Cley, virada para Jean Patrick ajeitar para Marcinho bater. A bola desviou e enganou o goleiro, matando o jogo!

Vasco mostrou muitas virtudes, uma marcação muito interessante e acima de tudo, uma mentalidade muito guerreira na luta pela bola. Mantendo isso e aprimorando os defeitos, principalmente acertando essa linha de três meias quando estamos com a posse, que errou MUITO, poderemos ter bons frutos!